quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

1 - Fulanos que falam com você

 

- Oi!
- Oi, hehe.
- Eu amo aquele restaurante do outro lado da rua. Quando eu era mais jovem, o frequentava todas as sextas, com a minha mulher!
- É? hehe.
- Além disso, esse restaurante tem uns petiscos que...
- Oh, god.
- Hã?
- Ah, nada. Hehe.

FFV é uma sigla que significa “Fulanos que Falam com Você”. Sentado em um ponto de ônibus - Ou sentado em um de seus bancos - na fila de espera para alguma coisa, no escritório do médico. Não importa o local, eles estarão lá. Em algum momento da sua vida, uma pessoa totalmente desconhecida irá falar com você na rua.
Sempre tive curiosidade sobre os arquétipos de pessoas que normalmente praticam essa atitude. Conversando com uma amiga, ela me deu alguns exemplos de pessoas que falaram com ela na rua, e então eu conclui que existe todo um ritual para que isso comece. Primeiro, caso dê para você notar, o FFV irá olhar para você dessa forma:

 


Depois, ele irá tentar uma conversa com você. 70% das pessoas irá responder com “Hum” ou “Uhum”.

É sério, dados oficiais da universidade de Shumbregovisky.

A partir daí, eu pude concluir que essas pessoas se dividem em três tipos gerais:

QSA (Quero a Sua Ajuda)

 


- Ei... Garoto... Filhinho... Pode me dizer quando vier um ônibus verde...
- Ei, meu jovem, pode me ajudar a colocar essas compras no ônibus?

Normalmente, os QSA são pessoas idosas, que pedem auxílio físico, para o que não são capazes de fazer. Apesar de a maioria ser idosa, existem QSA gestantes, com crianças no colo, deficientes físicos e mentais... Ou seja, toda aquela galerinha da pesada que tem direito a uma cadeira especial no ônibus ou metrô.


ZP (Zé perdido)


Ele sempre pergunta para você nomes de ruas que você ao menos sabia que existem. Além disso, um ZP tem a incrível habilidade de achar outro. Muitas vezes, já falei para as pessoas: “Eu também to meio perdido, desculpa.”.

O que foi? Eu sou um Zé perdido também! Não me encham o saco!

Esse é o único tipo de Fulano que Fala com Você que pode ser tímido. Eles podem estar precisando MESMO saber onde estão. Conheço uma amiga que uma vez vinha para a minha casa de ônibus. Nervosa com o fato de saltado no ponto errado, ela pegou um táxi. Se ela estivesse sem dinheiro, talvez tivesse que pedir ajuda para alguém, e viraria uma ZP. (Ou eu deveria chamar de MP... Maria perdida?).
Acho que vou dar de presente pra ela um boneco desses da imagem.

CB (Cale a boca)

 

Pra mim, é o pior tipo de FFV. Ele tem a incrível capacidade de puxar um assunto e desenvolvê-lo. Um cara olhou para mim no ônibus. Sim, AQUELE olhar da segunda imagem. Vendo o meu emblema do Colégio Pedro II, começou a falar que estudou lá, conheceu os melhores amigos por lá e que no fim acabou voltando ao colégio como professor. Ele já tinha sofrido um acidente de carro indo para o colégio. A história terminou com ele contando sobre como fazer panquecas.

Eu, claro, estava igual ao cão da imagem.

Também teve o dia onde eu estava no shopping com uma mochila do Pearl Jam, e então um homem me chamou e disse que conheceu a mulher da vida dele graças ao Pearl Jam, e que o show do Pearl Jam em 2005 mudou a vida dele, principalmente quando eles tocaram Betterman. Terminou com ele dizendo que odiava essas “bandas de emo”, e que o sonho da vida dele era continuar com a sua banda cover de Pearl Jam.
Também teve a mulher no hospital, que começou a contar para mim sobre como ela saiu da Bahia, criou três filhos e...Terminou falando que o marido estava engessando o dedo.

Vocês já entenderam.

Essas pessoas sofrem de carência e/ou nostalgia. Elas precisam de alguém para ouvi-las. As pessoas carentes resolvem então desabafar para uma pessoa que nunca mais irão ver em toda a sua vida, pois assim sentem que o seu “segredo” está guardado e mantido no anonimato. As pessoas nostálgicas ainda estão surfando em suas memórias de “bons tempos” e precisam compartilhar com os outros esses momentos, mesmo que a gente não tenha idéia de como foi vivenciá-los.

Existe também o outro lado da moeda. Uma amiga minha disse que gosta de dar “bom dia” às pessoas na rua! Ela disse que nunca a maltrataram por fazer algo assim, mas que já ignoraram seus cumprimentos. Eu ignoraria por não ter certeza de que o “bom dia” era pra mim.

Alguém já parou você na rua e começou a falar com você do nada?



 Nenhuma dessas imagens é de minha autoria.
A primeira imagem é de um cara chamado Frits Ahlefeldt
A segunda imagem eu achei no Zero-chan
A terceira imagem também.
A quarta imagem é um presente que eu quero dar pra uma amiga.
A quinta imagem é uma montagem que eu achei no Google.